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Foto do escritorVera Felicidade

Existir é preciso


- Giovanna Castro -


A conceituada psicóloga baiana Vera Felicidade lança, hoje, o livro "A questão do ser, do si mesmo e do eu" e defende: "O importante é existir"


A vida em sociedade, não se pode negar, admite tipificações que são aceitas pelo senso comum e quase sempre tidas como absolutamente irrefutáveis. Um marginal agride as pessoas porque nasceu com má índole, um adolescente briga com os pais porque é rebelde, o marido trai sua esposa porque "todos os homens são iguais", a mulher chora no ambiente de trabalho porque é o sexo frágil, uma pessoa que se comporta de um jeito meio esquisito está tomada por espíritos obsessivos. Acontece que, segundo os conceitos da psicologia gestaltista, as coisas não se dão desta forma tão simplista e gratuita: a princípio, ninguém nasceria simplesmente mau-caráter, agressivo, rebelde ou temperamental, da mesma forma que ninguém viria ao mundo absolutamente bom.


O que faz a diferença entre esse determinismo comumente aceito e os estudos gestaltistas é a capacidade perceptiva que todo ser humano possui. Ou seja, as pessoas assumem determinados comportamentos a partir da percepção que têm de todas as coisas. Criadora da psicoterapia gestaltista que, na prática, significa o uso desses conceitos teóricos em consultório, a baiana Vera Felicidade de Almeida Campos lança, hoje, na livraria Grandes Autores (Ondina), a partir das 18h, A questão do ser, do si mesmo e do eu, publicação que dá prosseguimento aos seus estudos na área, iniciados há quase 35 anos.


Nesta sua sétima publicação, Vera Felicidade (que é considerada o maior expoente dessa modalidade terapêutica na América Latina) explica os conceitos do Ser, do Eu e do Si mesmo. O Ser é a possibilidade de relacionamento; o Eu é o posicionamento do ser; e o Si mesmo é o desdobramento do Eu. "Neste livro, quis explicar a questão do Ser e do Eu através da percepção", detalha. A autora dá conta do seu objetivo em três capítulos: Vida psicológica é vida perceptiva, Possibilidade de relacionamento e Motivação.


O mais animador dessa história toda é que a psicologia gestaltista admite, sobretudo, a mudança de percepção. E é exatamente isso a que se propõe a psicóloga, formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que tem no currículo do curso de psicologia da Ufba uma disciplina que leva o seu nome: A Psicoterapia Gestaltista de Vera Felicidade. Ao contrário de métodos mais tradicionais de psicanálise, Vera não apenas ouve seu cliente como também dialoga com ele, estimulando-o a perceber a vida de um modo diferente."Muitas coisas não são ditadas pelo inconsciente. Trabalho com o meu cliente para sua transformação e não sua adaptação", estabelece.


Vera Felicidade defende que o ser humano, por essência, é possibilidade de relacionamento. "Não há regras, o que nos define é nossa relação com o mundo, com o outro e conosco. O ser humano não é bom, nem ruim, mas tem o infinito dentro de si, que é a possibilidade de se relacionar", ilustra. Todo o problema do ser humano como se configura hoje em dia, diz Vera, é a busca incessante pela satisfação de necessidades sejam elas quais forem, mesmo as básicas como sexo, alimentação e sono, e a corrida pela realização de metas e resultados.


"Quando ele vê que pode mudar de percepção, deixa de viver em função das necessidades, passa a viver as possibilidades e descobre que não há meta, não há resultados, o importante é existir. O resultado da vida é viver, não se vive ''para''", posiciona-se. Até por isso mesmo, o conceito de inconsciente, firmado por grandes nomes como Freud, o pai da psicanálise, e Lacan, é refutado pelos gestaltistas. "A idéia de inconsciente é simplista e determinista por estabelecer uma relação de causa e efeito. Os critérios sociais mudam de geração a geração, são extrínsecos", diz Vera Felicidade.


FICHA

Livro: A questão do ser, do si mesmo e do eu

Autora: Vera Felicidade de Almeida Campos

Editora: Relume Dumará

(88 páginas)

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